Você comprou Bitcoins, e agora? Pt.1
Um número cada vez maior de pessoas investe em criptomoedas como Bitcoin e Ethereum, mas nem todos sabem como proteger seus ativos virtuais contra perdas ou roubos. Parte 1 de 2.
Por: André Mazeron, sócio diretor da Leverage Segurança da Informação
06/09/17
Bitcoin, Ethereum e outras moedas virtuais estão em alta. A facilidade para o investidor comum ingressar neste mundo e a promessa de ganhos rápidos aumenta a demanda e consequentemente puxa para cima as cotações. Consultorias financeiras anunciam as criptomoedas com frases como “pessoas comuns estão se tornando milionárias“. Não sei se a cotação da Bitcoin vai chegar um dia a um milhão de dólares como dizem, mas o fato é que o potencial destes meios ainda não foi totalmente explorado. Mas o assunto aqui não é dicas de investimento e sim dicas de como não perder este investimento.
Este artigo é dividido em duas partes. Esta primeira cobre alguns conceitos básicos e riscos associados. Na parte 2, veremos na prática ações para proteger sua carteira.

Valorização da Bitcoin em R$. Bônus: meme do Magic Internet Money (autor:/u/mavensbot).
Pouca gente de fora deste meio entende de fato o que são e como funcionam as criptomoedas. Em parte porque é algo tão novo e revolucionário que é difícil montar analogias com moedas tradicionais. É mais fácil explorar as diferenças do que as semelhanças. Por exemplo:
- Moeda tradicional: Se você tem uma conta no banco, pode imaginar que exista um cofre gigante em algum lugar com maços de cédulas lá e uma anotação dizendo “pertençe a fulano”. Na prática o dinheiro é eletrônico, mas o raciocínio é o mesmo. Você tem uma conta lá e apenas você, seu banco (e a Receita Federal?) sabem quanto você tem. Ou talvez você seja daqueles que guarda o dinheiro embaixo do colchão. Seja qual for o caso, você ainda pode pensar nele como existindo em um local centralizado.
- Moeda Virtual: Não existe um lugar central. Todos os computadores que pertencem à rede mantém cópia de toda a informação, disponível para consulta por todos, incluindo o saldo de cada conta e todas as transações que já aconteceram. Seu dinheiro nunca está com você, sequer existe este conceito nestas moedas. O que existe é uma chave privada que dá acesso a esta conta, a qual normalmente é salva em arquivo protegido por senha em uma “carteira” quando você usa um app de carteira de moedas. Pense nesta como uma senha, a qual inclusive pode ser copiada para vários lugares. Qualquer um que tenha esta chave tem acesso a esta conta a partir de qualquer lugar.
Privacidade e Segurança
Estes conceitos de que a informação é pública e distribuída são fundamentais para entender as implicações do uso destas moedas. Com base neles, temos algumas considerações importantes:
- Ao contrário da sua conta bancária ou do seu colchão, qualquer um que saiba o número da sua conta pode consultar o seu saldo e extrato. Por exemplo, a The Water Project, ONG para cavar poços artesanais na África, aceita doações via Bitcoin para o endereço 14xEPWuHC3ybPMfv8iTZZ29UCLTUSoJ8HL (o equivalente ao número da sua conta no banco). Você pode obter informações sobre esta conta em sites como o Blockchain.info, onde é possível ver que esta conta recebeu até o momento pouco mais de 165 bitcoins (cerca de US$765.000 em valores atuais) e tem um saldo atual de 0,002009 bitcoins. O anonimato das moedas virtuais existe enquanto não for possível associar um endereço a um nome. A privacidade é relativa e depende de como e para quem você divulga o número da sua conta.
- Se alguém obtém cópia de sua chave privada, pode transferir o seu saldo. Saber onde se encontra esta chave e protegê-la é essencial. Talvez esta chave exista em um diretório do seu computador, se você usa aplicativo instalado localmente. Talvez esteja sob a guarda de uma empresa de corretagem ou investimento. Vamos falar mais sobre isto à frente.
- Se você perder esta chave, você perde o dinheiro. Ele não desaparece, mas simplesmente não existe forma de recuperá-lo. Não há uma agência para ir com RG e comprovante de residência e comprovar que você é o dono daquela conta. Se a chave está protegida por senha e você perder a senha, o resultado é o mesmo.
A questão da privacidade, sigilo bancário etc. fica a seu critério. Mas lembre-se que se você opta por divulgar o número da sua conta para aceitar pagamentos, qualquer um pode rastrear estes valores, incluindo chantagistas, golpistas, Receita Federal, etc.
Sobre a chave, vou enfatizar quantas vezes forem necessárias: Proteger a chave privada da sua carteira é a coisa mais importante. Isto inclui proteção contra roubo e contra perda acidental. A responsabilidade da guarda desta informação é de quem a detém. Se você compra moeda através de alguma empresa na internet (ex: Mercadobitcoin, Coinbase, etc.) a qual mantém sua carteira com eles, a responsabilidade é deles. Se você usa algum aplicativo de carteira (Electrum, Myetherwallet), a responsabilidade é toda sua.
No banco ou no colchão?
Com quem você deve deixar sua carteira? É uma questão de confiança. Você tem o conhecimento e recursos para assegurar que sua chave estará a salvo? O que acontece se a empresa onde você mantém sua conta tiver um problema? Algumas das empresas que atuam como brokers para moedas virtuais possuem seguro. Ainda assim, é um ambiente bem mais sujeito à problemas do que bancos tradicionais. Por exemplo:
- MyBitcoin – Em 2011, perdeu 51% de suas carteiras, um saldo de 78,739 BTC ou o equivalmente hoje a US$ 37 milhões. É possível que o site tenha sido na verdade uma grande fraude, criado justamente com este objetivo.
- Mt Gox – O caso mais notório. Em 2014 a empresa com base no Japão entrou em colapso alegando roubo. Há uma ação na justiça até hoje para tentar recuperar os valores, estimados em 650.000 BTC (US$ 450 milhões na época ou mais de 3 bilhões de dólares em valores atuais).
- Bithub – Em julho de 2017, cerca de 30.000 clientes deste broker baseado em Seul foram vitimas de roubo, em um valor não foi divulgado mas que chega a milhões.
Manter uma carteira local não lhe deixa a salvo de riscos. Assim como o proverbial colchão há o risco físico. E se pegar fogo? E se o HD pifar? E se o PC foi roubado? Além disso, temos os riscos lógicos, como vírus, ransomware e outros. Na parte 2 deste artigo vamos ver que medidas tomar para proteger sua carteira caso opte por armazená-la localmente.
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